Mais de 1.200 faculdades no Brasil formam anualmente milhares e milhares de bacharéis em Direito. Numa média grosseira, 20% desses acabam conseguindo se inscrever na OAB, após a aprovação no certame. Aí encontramos dois problemas. Vejamos:

1. Durante a faculdade, quem precisa, pode prestar estágios, que remuneram relativamente bem (para um estágio), ou ao menos pagam a faculdade. Digamos que quem procura, acha estágio que pague uns 800 reais. Após a colação do grau, o bacharel não poderá mais prestar estágio. Não poderá também advogar até que passe na prova da Ordem e aguarde vários meses até a chegada da carteirinha, sem a qual não pode trabalhar. Viverá de que esse bacharel até a chegada da carteirinha?

2. Após a tão esperada carteirinha, irá trabalhar numa empresa ou escritório de advocacia e receberá por volta de 1.500 reais, ou irá trabalhar por conta, tendo que se manter sem rendimentos por mais vários meses?

Vejam que não é fácil o caminho a ser trilhado por quem opta seguir uma carreira jurídica. Há ainda aqueles que estudam para fazer concursos. Bem, os concursos para os cargos melhor remunerados, como juizes e promotores, já exigem prática jurídica (não vale estágio) de no mínimo três anos. Ou seja, depois de terminada a faculdade, depois de passar no concurso da Ordem, depois de receber a carteirinha, e depois de esperar três anos, trabalhando como advogado, poderá fazer um desses concursos.

Aí outro dilema... esperar tanto tempo, vivendo as custas de outros ou passando fome, ou acabar fazendo um concurso de nível mais baixo para se manter? Mas lembre-se, a maioria desses concursos, se não todos, não contarão como prática jurídica, e não lhe permitirão prestar um concurso para juiz ou promotor, por exemplo.

Viver da advocacia como advogado, pode ser uma aventura de anos até que traga algum retorno. Lembre-se ainda que se você não for bom naquilo que você faz, o mercado lhe deixará de lado, você sucumbirá.

Se todos colocassem na ponta do lápis o custo de uma faculdade de Direito, e o tempo que levará para recuperar o dinheiro investido, acredito que 90% das faculdade fechariam suas portas.

Fazendo uma conta simples, digamos que a faculdade custe 700 reais por mês, e você levará 5 anos para se formar. Só o valor da faculdade fica em 42.000 reais. Adicione-se a esse valor o custo com transporte, alimentação, livros e etc. Podemos considerar por baixo uns 50.000 reais. Esse valor, dividido em 60 meses (5 anos) e colocado numa aplicação que renda 0,7% ao mês, lhe daria ao final o valor de 61.873 reais.

Consideraremos esse valor para o calculo do tempo de retorno da sua faculdade. Se você optar por ser advogado de uma empresa, ganhará durante os primeiros anos, uma média de R$ 2.000,00, considerando o décimo terceiro e férias nessa média (hipoteticamente). Cabe aqui uma notícia desanimadora, há anúncios no Distrito Federal, de vagas de advogado, oferecendo 800 reais. Voltando aos cálculos, considere que você terá 1.500 reais de despesas para viver (não, não estou considerando que você seja um monge franciscano), e lhe sobre 500 reais por mês, que seria um “lucro”. Nessa hipótese, você levará 378 meses para pagar a faculdade, considerando os mesmos 0,7% de correção que você teria se o dinheiro estivesse aplicado. Ou seja, 31 anos. Claro que há chances de você passar a ganhar mais no decorrer desse período, ou também de desistir e abandonar tudo.

Digamos que você opte por advogar autonomamente. Durante os primeiros dois anos você conseguirá dinheiro apenas para sobreviver, na melhor das hipóteses. Depois, digamos que você se destaque e acabe tirando uns 5.000 reais por mês. Seus gastos aumentarão junto com isso. Você precisará de um carro para “mostrar” sua competência para os clientes, se vestir bem e etc. Isso lhe custará praticamente tudo que ganha por mais alguns meses ou anos. Não me darei ao trabalho de calcular quantos anos levará para você ter o retorno. Imagine quanto dinheiro sobrará para você nos próximos anos advogando. Lembre-se que o mercado está repleto de profissionais, e muitos deles experientes. Duas coisas são difíceis: achar alguém que queira arriscar uma causa grande com um advogado inexperiente, e você ter algum conhecido que queira lhe pagar o que você merece. Raríssimos são os advogados que logo se destacam e começam a ganhar bastante dinheiro. Não conheço.

Isso aqui parece mais uma campanha para que as pessoas não façam Direito. Mas não é. Isso tudo é apenas para mostrar friamente a realidade para a maioria das pessoas, que acaba fazendo a faculdade, investindo muito dinheiro e depois não vem outra alternativa que não mudar de área. Com isso os únicos que ganham são os donos das faculdades.

Alguns criticam a OAB pelo Exame, outros o Ministério da Educação por permitir a abertura de tantas instituições de ensino de Direito. Mas a realidade é que nós mesmos temos que saber o que queremos para nossas vidas. As informações estão aí. Todos começam a faculdade de Direito sabendo do Exame de Ordem. Se não souber, não merece sequer estar sentado numa cadeira escutando aulas de Direito.

O Direito é uma ciência maravilhosa. A maioria dos que fazem essa faculdade afirma que todos deveriam fazê-la, porque o conhecimento adquirido é muito valioso, até mesmo para quem não for seguir carreira jurídica. Mas não devemos nos iludir de que a profissão de advogado, ou qualquer outra no meio jurídico, é fácil, e dará um retorno rápido, ou fácil. Acabam permanecendo no mercado  somente as pessoas que amam o Direito, que estudam, que se dedicam e que respiram isso. Se você não tem esse perfil, e pretende seguir uma carreira jurídica, não deve fazer faculdade de Direito. Mude seus planos. Você estará apenas alimentando os leões nesse mercado de faculdades “caça-níqueis”, e também piorando as estatísticas de concursos e do Exame de Ordem.

De toda a forma, o Direito está aí, precisando de pessoas competentes para ocupar cargos de juizes, promotores, advogados entre outros. A máquina composta por essas engrenagens não pode parar, e deve trabalhar de forma mais eficiente a cada dia. O povo merece os melhores nesses cargos, e os melhores devem ser reconhecidos e recompensados. Por isso todas essas dificuldades. Salve o Direito.

Texto confeccionado por: Rodrigo Luckow. Advogado.