Ministros do STF concedem apenas 5% dos pedidos de Habeas Corpus
A Polícia prende muito e a Justiça solta muito? Nem tanto ao mar nem tanto à terra. O Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo, mas dividido pelo número de habitantes, possui a 26ª maior média. Se se considerar os números de detentos provisórios, à espera de um julgamento, cai para 103ª posição na média mundial.
Já no caso de concessão de Habeas Corpus, ao se analisar a instância máxima da Justiça brasileira, o Supremo Tribunal Federal, o número de concessões pelo direito de ir e vir, à liberdade pessoal, é da ordem de 5 a cada 100. Ou exatamente 5,4%.
Até o último dia 15 de setembro, por exemplo, foram registrados e distribuídos neste ano 9.215 pedidos de Habeas Corpus no STF. Destes, 8.878 foram aos ministros e outros 337 ficaram a cargo do presidente da corte, Luiz Fux.
A média de concessão de HCs em decisões monocráticas foi de 5,4%. O ministro que menos concedeu foi o novato Nunes Marques, cuja média é de 1,5%, ou 23, frente aos 1.516 pedidos que recebeu.
O magistrado que mais recebeu pedidos, também por conta do período eleitoral do ano passado, quando ficou sem distribuição de liminares, é Luís Roberto Barroso: 1.662 pedidos e 66 concessões, ou 4%, a segunda mais baixa entre os ministros.
O ministro Gilmar Mendes é quem tem a maior média de concessão de Habeas Corpus, com 13% (160 no total), dos 1.221 pedidos recebidos. Seguido por Edson Fachin (11% ou 151 de 1.360), Cármen Lúcia (9,2% de 1.223), Alexandre de Moraes (5,6% de 1.127) e Dias Toffoli (4,4% de 1.246).
Rosa Weber recebeu 1.303 pedidos (53 concedidos) e Ricardo Lewandowski 1.029 (42 concedidos). Ambos têm média de 4,1% de concessão de HCs.
O ministro aposentado Marco Aurélio Mello não consta na lista já que não julgava Habeas Corpus monocraticamente. Até o dia 12 de julho deste ano, quando deixou o Supremo, havia recebido 558 pedidos de HCs.
Veja abaixo a tabela, classificada por média de concessão:
até 15.set.2021 |
HCs recebidos |
média de concessão |
Gilmar Mendes |
1.221 |
13% |
Edson Fachin |
1.360 |
11% |
Cármen Lúcia |
1.223 |
9,2% |
Alexandre de Moraes |
1.127 |
5,6% |
Dias Toffoli |
1.246 |
4,4% |
Rosa Weber |
1.303 |
4,1% |
Ricardo Lewandowski |
1.029 |
4,1% |
Luís Roberto Barroso |
1.662 |
4% |
Nunes Marques |
1.516 |
1,5% |
Para criminalistas consultados pela
ConJur, esse número, expressivamente baixo na visão deles, ainda é fruto do clima punitivista que se instaurou no país nos últimos anos.
Segundo eles, mesmo entre os que mais concedem liminarmente Habeas Corpus, como o ministro Gilmar Mendes, há um desacerto. Revoga-se liminarmente a prisão por falta de fundamento, mas, depois, acaba substituindo por medidas cautelares diversas.
Na visão deles, se a prisão é mal fundamentada, não há de substituí-la por medida cautelar onde não cabe condenação.
Criminalistas também não são só pessimistas pela quantidade de pedidos denegados. Para eles, o mais crave é que, monocraticamente, a maior parte dos pedidos sequer é conhecido.
"Daí só cabe recurso via agravo de instrumento, sem que o advogado possa sequer fazer sua sustentação oral, em um julgamento colegiado. É uma tragédia!", resumiu um deles.
Restrição de liberdadeSegundo levantamento mais recente do Monitor da Violência, parceria do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP (Universidade de São Paulo) com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a taxa de encarceramento no Brasil em maio de 2021 era de 322 presos para cada 100 mil habitantes.
No ranking mundial, é o 26º país da lista liderada pelos Estados Unidos, com 639, segundo levantamento da "World Prison Brief", do Instituto de Pesquisa de Política Criminal da Universidade de Londres. A base de dados reúne as informações mais recentes de cada local.
Considerando o número absoluto de presos, no entanto, o Brasil, com 682 mil detentos, ainda ocupa a terceira posição com folga, atrás apenas de China e Estados Unidos, e à frente da Índia, que tem pouco mais de 478 mil detentos.
"O Brasil tem registrado nos últimos 30 anos um aumento expressivo, da ordem de 5% a 10% ao ano, da população prisional sem que isso impacte a incidência criminal. Se o Brasil conseguir chegar a uma taxa próxima dos 200 por 100 mil [habitantes], que já é uma vez e meia a taxa mundial de encarceramento, a gente vai concluir que não precisa de mais vagas", diz o defensor público e ex-diretor do Depen (Departamento Penitenciário Nacional) Renato de Vitto.
O levantamento também mostra que 217.687 presos ainda aguardavam julgamento — o que equivale a 31,9% do total de presos. Neste caso, o Brasil fica na 103ª posição, com o mesmo índice da Austrália, por exemplo.
Fonte: Conjur